O cinema que poucos conhecem
Em 10 anos, o cinema independente brasileiro cresceu 400% em número de filmes. Junto com a quantidade, cresceu a qualidade: muitos desses filmes foram premiados em festivais nacionais e internacionais, chamando atenção do público, que ainda tem pouquíssimo acesso a esse ramo da produção cinematográfica desenvolvida longe dos grandes estúdios. Um exemplo do crescimento qualitativo […]
Publicado em 27/05/2014
Por Unoesc
Em 10 anos, o cinema independente brasileiro cresceu 400% em número de filmes. Junto com a quantidade, cresceu a qualidade: muitos desses filmes foram premiados em festivais nacionais e internacionais, chamando atenção do público, que ainda tem pouquíssimo acesso a esse ramo da produção cinematográfica desenvolvida longe dos grandes estúdios.
Um exemplo do crescimento qualitativo do cinema independente brasileiro é o longa metragem “O som ao redor”, que foi exibido na Noite da Pipoca 2014, evento promovido na última sexta-feira pelo Curso de Comunicação Social Publicidade e Propaganda da Unoesc Joaçaba de forma conjunta com a II Mostra de Cinema Independente. Esse filme foi listado entre os 10 melhores do ano em 2012 por um colunista do jornal The New York Times e reconhecido por 11 prêmios em oito festivais nacionais e internacionais. Em janeiro de 2013, foi visto por mais de 10 mil pessoas durante três dias em apenas 13 salas de cinema, enquanto a média de público dos filmes independentes fica em torno de cinco mil pessoas.
Mas, apesar do sucesso de “O som ao redor” e de outros títulos exibidos na II Mostra de Cinema Independente, ainda é muito cedo para dizer que o cenário é favorável para o cinema independente brasileiro. Uma reflexão sobre esse universo foi trazida à tona pelo convidado especial da Noite da Pipoca, o produtor Ibirá Machado, da Vitrine Distribuidora de Filmes Independentes, de São Paulo.
Segundo Ibirá, se por um lado alguns fatores positivos, como o barateamento dos equipamentos tecnológicos, permitiram que muitos projetos saíssem do papel e o país descobrisse uma geração de cineastas, por outro, esse ramo de cinema ainda enfrenta muitas dificuldades. A primeira delas é a falta de recursos para publicidade: enquanto os filmes comerciais, de grandes estúdios de cinema, chegam a ter milhões para investir em publicidade, normalmente os filmes independentes não têm verba para divulgação.
– Existe um desequilíbrio muito grande, pois muitas pessoas sequer sabem que eles [os filmes independentes] existem ou entraram em cartaz – comenta.
Outro aspecto apontado pelo produtor é a especificidade de público:
– O cinema independente funciona no sistema de arte. Tem público, mas é um público específico. Não oferece um filme que rende milhões de reais no bolso do exibidor. Não é esse o objetivo, ele propõe outras coisas: propõe experiências e reflexões no público, enquanto o cinema comercial tem o objetivo de entreter – explica.
O produtor observa ainda que mesmo tendo públicos distintos, os espaços de exibição são os mesmos, as salas de cinema comercial, e que esse é outro empecilho na exibição e na conquista de espaço para o cinema independente. A lógica é simples: por que o dono da sala de cinema vai deixar de colocar em cartaz um filme com público garantido para exibir uma produção que pode atrair poucas pessoas?
Como alternativa, Ibirá conta que estão aumentando as salas específicas para o cinema independente. Algumas chegam a se manter em formato comercial, em cidades como Rio de Janeiro e em São Paulo. Outras, são financiadas pelo poder público, como ocorre em Florianópolis, Porto Alegre e Curitiba. Essas iniciativas, segundo o produtor, contribuem para, aos poucos, popularizar o cinema independente. Ele elogia, ainda, a própria Noite da Pipoca, realizada há mais de 10 anos pelo Curso de Comunicação Social da Unoesc Joaçaba.
– Por mais que Joaçaba não tenha uma sala de cinema, proporcionar uma pequena mostra como esta, com um debate, é o tipo de coisa que vai acabar funcionando. Se a gente permitir que isso cresça, podemos sonhar que no futuro exista uma sala que permita esse fluxo – comenta.
Noite da Pipoca
A Noite da Pipoca 2014 e a II Mostra de Cinema Independente, realizadas entre a noite de sexta-feira e a tarde de sábado, exibiu cinco filmes, quatro deles reconhecidos por premiações em vários festivais nacionais e internacionais. Mais de 300 pessoas acompanharam a programação, que contou também com um debate com o produtor Ibirá Machado.
– O evento foi muito proveitoso, especialmente no âmbito cultural, por termos a oportunidade de assistir filmes que não são do circuito de cinema tradicional – diz a professora Sílvia Simi dos Santos, coordenadora do Curso de Comunicação Social da Unoesc Joaçaba.
Os dois eventos foram apoiados pelo Cineclube Rogério Sganzerla, pela Cinemateca Catarinense e pela Vitrine Distribuidora de Filmes Independentes. O ingresso era 1 kg de alimento não perecível, para ser destinado a uma entidade beneficente.